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terça-feira, 20 de maio de 2008

ESTÁ A ANDAR... PASSA PALAVRA!

Apesar das minhas muitas contradições, dos mais variados aspectos, entrar no Santuário de Fátima nunca me foi indiferente. Muito para além do místico e do sagrado que ali sinto, é a fé dos simples, a esperança dos deserdados ou desiludidos, o que me arrepia e comove.Tenho pena que a minha espiritualidade seja um pouco de trazer por casa, não obstante a educação exemplar que me foi dada.Desta vez ainda foi mais forte o sentimento e a comoção!
No passado domingo, dia 18 de Maio de 2008, voltávamos, quarenta anos depois de ter regressado da Guerra em Angola, para agradecer à Santa Virgem Maria a graça de termos vindo e, também, pedir misericórdia e refrigério para as almas dos nossos do BCAV 1883, que lá, no Altar da Pátria, imolaram a juventude e a própria vida.Viemos para rezar, também, por aqueles que nos foram deixando ao longo destes anos e hoje mais não são do que a nossa Saudade.E já são tantas as cruzes que assinalam aqueles que partiram para sempre!No almoço da Fraternidade encontrámo-nos com os vivos e nos abraços, sentidos e apertados, podemos expressar a alegria do reencontro de gente a quem estamos profundamente ligados pelo coração.Como sempre é um sentimento de amargo e doce revê-los:
os meus meninos imberbes, a quem dei a recruta, no ano distante de 1966, no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa ! Os anos embranquecerem e devastarem-lhes os cabelos, que tantas vezes mandei “rapar à éca”!
As rugas que o suor lhes cavou nas faces, de uma vida de trabalho, atestam porque são Homens de Bem.Vejo-os chegar, de braços abertos:
são Homens de corpo inteiro, acompanhados pelas esposas, filhos e netos, também eles pedaços ambulantes da minha Família e… perdoem-me a vaidade, comungo da sua alegria e do seu sucesso, nesta jornada de Fraternidade daqueles que passaram e viveram juntos tantos perigos, tantas noites de vigília, fomes, secas e sedes, medos e solidariedades do ter que ter coragem, do ter que ir em frente, apenas com a generosidade de quem tem vinte anos.O seu sucesso, também é o meu sucesso!E quando um deles, na hora da despedida, me dá um abraço “como se abraçasse o meu falecido pai”, eu sinto um Orgulho enorme, que está muito para além dos louvores, das medalhas, que não tive, e das muitas injustiças de que a vida militar me foi tão pródiga:
e ficam-me os olhos rasos de água!Então, encho o peito de ar e como faziamos no "trilho", no tempo da Guerra, é sempre imperioso seguir em frente:- Está a andar! Passa palavra!
João Sena

1 comentário:

Alberto David disse...

É sempre um regalo ler e reler os artigos do Amigo João Sena, o nosso convívio pouco mais não foi do que umas cordiais saudações.Apesar de no meu dia dia na sala de Operações ter a percepção de que não era dos mais amados.Não foi uma total surpresa a sua arte em contar estórias, já no jornal do BCAV era frequente aparecerem alguns textos seus.Quarenta anos já lá vão após a nossa chegada, partimos imberbes, chegamos Homens feitos, para mim estes encontros são sempre uma mistura de alegria e de sabor Amargo, nunca poderei esquecer aqueles que por lá tombaram em defesa de uma Pátria que sempre os desprezou, e é com alguma dor que em cada encontro sei que mais um Camarada partiu para sempre. O Amigo Sena e a sua inseparável Júlinha, têm marcado sempre com uma forte presença a sua verdadeira amizade pela rapaziada, mesmo nos tempos mais dificeis porque passaram, para eles os meus agradecimentos, e um Bem-Haja, por não se esquecerem destes encontros, onde por direito próprio já ganharam o seu posto, e o tradicional abraço amigo de despedida, com um até para a próxima. AD