Image Hosted by ImageShack.us
VISITA , COLABORA , DIVULGA

sábado, 27 de outubro de 2007

ARMA DA CAVALARIA

ARMAS
Escudo de ouro, uma banda de vermelho;
Elmo militar de prata, forrado de vermelho, a três quartos para a dextra;
Correia de vermelho perfilada de ouro;
Paquife e virol de ouro e de vermelho;
Timbre: uma aspa de vermelho carregada de uma moleta de ouro;
Divisa: num listel de prata, ondulado, sotoposto ao escudo, em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzevir "MERECEMOS O NOME DE SOLDADOS";
Grito de Guerra: num listel de prata, ondulado, sobreposto ao timbre, em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzevir "À CARGA!";

SIMBOLOGIA E ALUSÃO DAS PEÇAS:
O Escudo simboliza o peito do cavaleiro realçado pela boldrié.
A Banda, donde pende a espada que só desembainha em defesa dos ideais do seu código de honra - lealdade, generosidade, desprezo pela morte, pronto a, num momento de grandeza, tudo arriscar pelo intrínseco cumprimento do dever ou porque simplesmente lhe praz a beleza ou a temeridade de um gesto. Em adusto campo de batalha ou em engalanado terreiro de liça, o mesmo anseio: enristando a lança, honrar o juramento, em frémitos de júbilo prestado, de combater pela justiça e pela fé na defesa dos fracos e das mulheres.
Grito de Guerra: sabre em punho, "À CARGA!" o cavaleiro arranca e "numa galopada desenfreada, através de uma saraivada de balas, vai completar com a carga a denota do inimigo".
Foi ao grito de guerra da Arma que a Cavalaria tantas vezes investiu, indómita e acutilante, para se cobrir de lendária glória em:
- Fuentes e Cantos "Raríssimas vezes acontece haver na guerra uma conduta mais brilhante";
- Arminon "Arrancou por meio da mais brilhante carga a vitória que o inimigo se ufanava ter alcançado";
- Macontene "Cessar fogo! Cavalaria para a frente!";
- Mufilo "Todo o quadrado os recebe com palmas e hurras";
- Môngua "A Cavalaria é recebida entusiásticamente com a Portuguesa...enquanto os landins entoam, com igual espontaneidade, o seu cântico de guerra".
Timbre: são, entre outras, estas "páginas brilhantes" que justificam Mousinho, Patrono da Arma, a quem o timbre alude, ter podido com verdade dizer:
"Por isso nós também MERECEMOS O NOME DE SOLDADOS; é esse o nosso maior orgulho".
Caçador ou dragão, lanceiro ou blindado, hoje como antanho, o cavaleiro aguarda impaciente o momento de saltar para a sela e, sabre em punho, mostrar ser digno das tradições da Arma, e ao continuar sua saga imortal, fazer jus a enfileirar na plêiade dos Centauros de epopeia.

OS ESMALTES SIGNIFICAM:
O OURO: a imortalidade da Fé e a constância e fidelidade aos ideais da Arma;
O VERMELHO: a bravura e a glória em campos de batalha, tantas vezes à custa de sangue generosamente derramado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

REGIMENTO DE CAVALARIA 3

Armas
Escudo- De azul, dois dragões adossados de prata, lampassados, sacados e armados de vermelho, segurando nas garras dianteiras dextra e sinistra, respectivamente uma espada antiga de prata, ponta embutida de prata com alerião invertido de negro.
Elmo- Militar de prata, forrado de vermelho a três quartos para a dextra.
Correia- De vermelho perfilada de oiro.
Paquife e Virol- De azul e de prata.
Timbre- Uma cruz florenciada de verde, entre duas asas de dragão de prata armadas de vermelho.
Condecorações- Pendente do escudo a medalha de Prata de Valor Militar.
Divisa- Num listel de branco, ondulado sotoposto ao escudo, em letras negras maiúsculas, de estilo elzevir: "CONDUTA BRILHANTE NA GUERRA".
Simbologia e Alusão das Peças
- Os DRAGÕES, adossados em sinal de unidade e camaradagem, aludem ao calor e ímpeto com que os corpos de cavalaria, espadas nuas, se lançavam sobre as posições inimigas em cargas de epopeia.

- O ALEIRIÃO - águia despojada de bico e de garras - em queda, recorda as "águias" napoleónicas que tropas do Regimento obrigaram a morder o chão, vergadas na derrota. - As ASAS de dragão do timbre definem a Arma da Unidade, enquanto a CRUZ DE AVIS, localizando-a regionalmente, perpetua a velha Cavalaria de ALÉM-TEJO. - A PRATA simboliza a humildade com que a firmeza
- O NEGRO - e a bravura -
- O VERMELHO - firmavam a esperança
- VERDE - de vitória, que ao longo da história cimentaram a fama
- O AZUL - da sua brilhante actuação na guerra.
Os Esmaltes Significam
- A Prata: Humildade.

- O Vermelho: Bravura.
- O Azul: Fama.
- O Verde: Esperança.
- O Negro: Firmeza.

REGIÃO MILITAR DE ANGOLA



ARMAS
Escudo de ouro, uma Welwitchia Mirabilis em flor de verde, realçada de ouro; bordadura de vermelho.
Elmo militar de prata, forrado de vermelho, a três quartos para a dextra.
Correia de vermelho perfilada de ouro.
Paquife e virol de ouro e de verde.
Timbre: duas garras dianteiras de leão, de vermelho, passadas em aspa, erguendo um escudo de ouro com uma Welwitchia Mirabilis em flor de verde, realçada de ouro.
Divisa: num listel de prata, ondulado, sotoposto ao escudo, em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzevir "CONSTANTE E FIEL".

SIMBOLOGIA E ALUSÃO DAS PEÇAS:
A Welwitchia Mirabilis, planta que apenas se encontra no deserto de Moçâmedes, onde resiste a todas as hostilidades do meio ambiente, e aí floresce, simboliza o esforço heróico do Exército Português em Angola e a sua tenacidade indomável na luta contra todas as adversidades, mau grado as quais, continua a cumprir a sua árdua missão.
A Bordadura de vermelho simboliza uma Região Militar.
As Garras dianteiras do leão erguendo o escudo simbolizam os braços do soldado português defendendo a província de Angola.

OS ESMALTES SIGNIFICAM:
O OURO: nobreza e pureza.
O VERMELHO: ardor bélico e força.
O VERDE: esperança e liberdade.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

ORAÇÃO POR NÓS TODOS

ORAÇÃO DOS FIÉIS

Por todos aqueles que combateram nas Guerras em África e Deus já chamou ao Seu Reino e, em particular, pelos nossos camaradas mortos em África, na Índia Portuguesa e em Timor.
– ROGUEMOS AO SENHOR.

Também vos rogamos, Senhor, pelos nossos camaradas, que nos deixaram ao longo destes anos, e de quem, pela sua ausência, temos a mágoa sem remédio por os havermos perdido e uma profunda saudade.
– ROGUEMOS AO SENHOR.

Por aqueles, nossos camaradas de armas, que sofrem e sentem na carne a mutilação e a doença, para que Deus os ajude a mitigar o seu sofrimento e a aliviar o seu calvário.
– ROGUEMOS AO SENHOR.

Por aqueles irmãos nossos, que um dia foram o nosso Inimigo nos campos de batalha e pela defesa da sua Pátria também morreram e ficaram mutilados, que o SENHOR os guarde e bendiga, concedendo àquelas Novas Pátrias, independência, prosperidade e Paz.
– ROGUEMOS AO SENHOR.

Pelas nossas famílias, pelas nossas queridas mulheres, filhos e netos, que a Misericórdia do Senhor tem protegido, por intermédio da Virgem, Nossa Senhora do Rosário de Fátima, nossa Mãe Santíssima.
– ROGUEMOS AO SENHOR.

Para que a Mãe-África, milenar e eterna, não mais tenha guerra, nem fome, nem epidemias, nem veja seus filhos escravos.
– ROGUEMOS AO SENHOR
.

sábado, 20 de outubro de 2007

REVISITANDO EÇA DE QUEIROZ

"UM POVO VALE MUITO MAIS DO QUE OS SEUS GOVERNANTES"
- (Conde de Gouverinhos)

Os Maias

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Guerra colonial ...

Foi absolutamente confrangedor e algo até patético o programa a que assisti durante mais de 3 horas no passado dia 17 sobre o título "Guerra Colonial".
Fora os Deficientes das Forças Armadas presentes , que deram uma imagem muito menor do que a realidade daquilo que passaram e estão a passar , todos os outros participantes estavam totalmente comprometidos, tanto pessoal como políticamente e portanto não podiam nunca ver com clareza todo o problema e principalmente o principal que era quem fez e sofreu com a guerra colonial .
Daqueles participantes , poucos ou nenhum esteve presente na "guerra", estavam comodamente sentados nos seus gabinetes ou então dentro dos quartéis a mandar ir para lá a "carne para canhão", que eram os Milicianos e os Soldados .
Agora pergunto eu , quantos Milicianos e Soldados estavam lá no dito programa , como participantes ? E quantas mulheres foram ouvidas ? Não existiram nesse tempo ? Não estiveram lá ou cá a sofrer ? Não ficaram viúvas , ou sem namorados ? E as casadas que viram regressar os seus maridos estropiados à vista e muito mais sem se ver ( stress pós traumático de guerra ? Sabeis quantos militares milicianos ( soldados incluídos ) sofrem desse mal que os afecta a eles e à sua família ? Sabeis quão bem íamos preparados para o que fomos encontrar ?
Não brinquem com coisas sérias , pois pode ser que ainda um dia vos saia o tiro pela culatra

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

NATAL EM TEMPO DE GUERRA ... 9



26 de Dezembro de 1966
Quando se substituíam as munições dos carregadores e se limpavam convenientemente as armas, um soldado deixou disparar, fortuitamente, a sua arma.
A rajada matou três, e feriu mais cinco soldados.
Na enfermaria do Batalhão, os moribundos expiraram, os feridos gemeram e um dos médicos tentou, desesperadamente, reanimar um dos moribundos, em respiração boca-a-boca.
Indiferente à tragédia, num pequeno transistor, cantava-se o velho fado:
"Quando foram dizer à pobre mãe que o filho, lhe morrera lá na guerra..."


Um mês mais tarde, nos finais de Janeiro de 1967, para atacarem o mesmo objectivo do N'Galama-Piri, foram empenhadas:
13 Companhias de Atiradores;
1 Companhia de Paraquedistas;
1 Bateria de Artilharia 8.8;
Apoio Aéreo ao solo, assegurado com três parelhas de F-84 e várias parelhas de T-6.
O objectivo, suficiente para um pouco mais de uma dezena de homens, foi atacado, assim, por mais de mil e quinhentos homens.
Disseram os jornais da época ter sido um grande sucesso militar!

Nota do Autor:

– O diário do capitão, amareleceu e perdeu a pouca importância que alguma vez possa ter tido. Foi esquecido. Depois foi deitado ao lixo. Os herdeiros do capitão não gostavam de guerra e muito menos de África.


Oito anos mais tarde as armas mortíferas dos colonialistas, depois da "retirada a pé descalço" que foi a "exemplar descolonização", foram entregues aos nacionalistas. Serviram para que se matassem, uns aos outros, mais a cubanos e sul-africanos que entraram nas intermináveis batalhas, e que, décadas mais tardes, permitiram que continuasse a guerra civil.
Uma das folhas deste diário serviu para acondicionar e depois embarcar um dos milhares de caixote de munições que estavam a ser exportadas. Não se sabe, se para uma das muitas guerras nos países soberanos de África ou se para os cacos ensanguentados do que ficou dos povos desbaratados da Jugoslávia.
Aqui bem perto:
– Na Europa.

Lisboa 3.11.83

sábado, 13 de outubro de 2007

NATAL EM TEMPO DE GUERRA ... 8

24 de Dezembro de 1966.
Os dois capitães vão sentados numa Berliet, de regresso a Quicabo.
– Nunca mais chegamos!
– Com as últimas chuvadas esta merda está intransitável.
– Se calhar temos de passar a noite aqui na picada...
– Não é natural. Logo que passemos a Baixa das Bananeiras, isto andará mais depressa.
– Se os “turras” se lembram de fazer uma emboscada...
– Não me parece. Têm o papo cheio! A coluna é demasiadamente grande. Só se forem flagelações, mas à distância.
– Foi uma pena que a operação não resultasse!
– Pois foi.
– Você esteve quase no objectivo. Se ao menos tivesse queimado as cubatas, isto tinha sido um brilharete! Assim...
– Quer dizer, o sucesso da operação era queimar cubatas!?
– Não é isso que estou a dizer. Se tivesse queimado as cubatas, podia-se fazer um relatório bem diferente. Você até podia, pessoalmente, ter dado a volta àquilo.
– Essa volta de que está a falar, custaria mais uns quantos mortos e feridos. Eles estavam lá em força, como se viu!
– Por favor... são uns porcos terroristas. Isto tudo foi uma merda. Aqueles tipos da Força Aérea, tanto prometeram e faltaram! Que não tinham tecto ou a puta qu' os pariu!
– Mas era certo. Nesta época do ano, de madrugada não há tecto para jactos. O cacimbo leva muito tempo a levantar.
– Olhe, quer que lhe diga? Tudo isto foi a teimosia do comandante. Quis à viva força fazer a operação, e agora aqui tem os resultados. Sabe que mais? Agora o que me interessa é chegar a Quicabo e ver se ele me deixa ir passar uns dias a casa com a família, agora pelo Natal. O resto que se foda!
A coluna auto, ronceiramente, segue o seu caminho.
Chegou-se a Quicabo a tempo de tomar banho, fazer a consoada, comer o bacalhau e ir ao teatro que o capelão tinha esmeradamente organizado.
O “rancho,” foram as celebérrimas batatas com bacalhau. Estavam frias e o bacalhau estava muito mais salgado.
Tinha lágrimas a mais...
Como era noite de Consoada, todos comeram fraternalmente no mesmo refeitório. Não havia apetite. Havia, e com fartura, muitas bebedeiras.
Não houve Feliz Natal.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

SITUAÇÃO DO BLOG

CAMARADAS

  1. Está terminada a estrutura técnica do blog.
  2. Faltarão alguns ajustes gráficos que serão feitos na medida em que, novas ideias surjam.
  3. Por sugestão do Helder Barreira, passaram a constar nos blogs, o nome de quem faz as respectivas postagens.
  4. Fica assim o nome «Comissão» livre, só para informação da respectiva «Comissão Organizadora», tais como, cartas, comunicações, etc..., pelo que os elementos da Comissão terão que fazer o favor de enviar os documentos desejados para o meu endereço: albertodavid@net.vodafone.pt
  5. Continuo a aguardar instruções ou pedidos, para criar as respectivas autorizações, que irão possibilitar a outros colaboradores escrever directamente no blog.
  6. Ao contrário do que se possa pensar, não temos muito tempo á nossa frente, pelo que é necessário fazer um esforço e reforçar todos os contactos possíveis com antigos Camaradas, para que o leque de colaboradores possa aumentar.
  7. Torna-se urgente aprovar ou redefinir, a estratégia seguida no blog.
  8. É necessário fazer uma boa selecção das diversas fotografias existentes assim como de Videos de encontros efectuados, ou outras informações consideradas relevantes.
  9. Seria óptimo e estimulante receber opiniões sobre o trabalho em curso, para não se perder a motivação e poder corrigir o que eventualmente possa estar menos bem.
  10. Na SIC, no programa da Fátima Lopes, em rodapé decorrem apelos à vossa participação, qualquer Camarada pode fazer o pedido de colaboração se enviar o seguinte SMS:FATIMA (espaço) NOME de quem envia a mensagem (espaço) Localidade (espaço) Mensagem pretendida enviar o SMS para o número 3363.
  11. De momento tanto eu como o Helder Barreira, estamos a trabalhar no aspecto gráfico e técnico do blog, enquanto o nosso Camarada João Sena, vai escrevendo como só ele sabe, pequenas histórias, que retratam com realidade momentos vividos.
  12. Caso persista a ideia de se fazer um livro sobre o batalhão, todo o material existente nos blogs, poderá fácilmente ser “copiado”.

  13. Alberto David

NATAL EM TEMPO DE GUERRA ... 7


Uma cratera com mais de cinco metros, está no meio do trilho. Pedaços de carne ensanguentada, pedaços de tripas, aos farrapos, estão espalhados pelas árvores.
No chão, quatro soldados parecem mortos. Não se mexem. Deitam sangue pela boca. Ainda respiram e gemem.
O capitão ajudado pelo Zé Inácio e o Constantino, arrastam os corpos para detrás das árvores, para os abrigarem do fogo, que continua.
A batalha tem gritos de raiva dos vivos, gemidos dos feridos, e muitas ordens gritadas.
A floresta virou talho. O enfermeiro não sabe a quem acudir. O capitão ajuda o enfermeiro. Com um pouco de algodão limpa o sangue que em golfadas, corre da boca de um dos soldados.
– Ai, meu capitão, que eu morro...
– Calma, pá. Isto vai-se resolver! Zé, vai dizer ao furriel que peça imediatamente evacuação heli para cinco ou seis feridos muito graves.
O tiroteio não abranda. As árvores vomitam metralha.
– Mê capitão, o furriel não consegue entrar em ligação. Diz que a mata é muito densa. Lá atrás, o nosso alferes Hélder está também cercado de “turras”. Não o deixam passar para o morro.
– Corre lá Zé. Ele não se pode deixar isolar. Senão, nunca mais saímos daqui.
– Mê capitão, aqueles bocados de carne... nas árvores, … são do Silva?
O capitão limpa o sangue da cara de um homem arrastado para fora da zona de morte. Está lívido. As árvores entram, de repente, a rodar no carrossel gigante.
Sim é verdade.
Os pedaços de carne pendurados naquele açougue, eram tudo o que restava, do que em vida, fora soldado, se chamara Silva, fora algarvio e, momentos antes estivera a seu lado, respirando o mesmo ar.
O turbilhão gira e confunde.
Tudo é real e não tem nexo.
A realidade e o pesadelo são coincidentes.
– Mê capitão, o furriel já entrou em ligação...
– Diz-lhe que peça apoio aéreo... ao menos com foguetes... e insista nas evacuações.
– Ai, meu capitão, que eu morro...
– Calma... calma... isto vai. Onde te dói?
– Todo o corpo... mas, mais no peito... não consigo respirar...
– Já está, mê capitão.
– Zé, vai ver o que se passa com o nosso alferes. Vê se já está no morro. – dirigindo-se ao soldado atirador que estava mais perto – Éh pá ... éh pá ... passa-palavra "alto ao fogo".
O soldado gritou para o outro que lhe estava próximo:
– Alto ao fogo... Alto ao fogo…
Foram minutos eternos para haver silêncio.
Os gritos de dor dos feridos, balbuciados entre dentes, pareciam estar a ser transmitidos através de uma amplificação sonora.
– Ferimos uns gajos e, no local dos rastos do sangue, encontrámos estas munições de Kalash. Os “turras” iam-nos cercando. Eram mais de cinquenta a fazer fogo à ganância. Tenho o morro controlado com três equipas – disse o Hélder com a respiração ofegante e o suor a correr pelo rosto sombreado por uma barba de três dias.
– Bem... precisamos de transportar os feridos até lá atrás. Zé, dá aí uma ajuda... pega com jeito... para não fazer doer...
– Ai... meu capitão... eu vou morrer... eu vou morrer…
– Pastilhas, dá morfina a todos os feridos, senão isto nunca mais anda. Éh pá... passa palavra… para o Marinho vir cá.
Chegou o alferes.
– Meu capitão, o Quirino salvou a malta. Assim que o Silva bateu no cordão de tropeçar, rebentou a mina. Tinha amarrada uma bomba de avião de cinquenta quilos. O Silva ficou desfeito. Os gajos estavam emboscados do lado da equipa do Quirino. Começaram a fazer tiro de rajada, a varrer. Quirino, arrastou a equipa, saltou para cima deles e atacou com granadas e fogo. Se o gajo não tivesse feito aquilo... os “turras” tinham vindo agarra-los à mão. O Madeira foi também bestial; pôs a metralhadora a cantar, e, de joelhos, obrigou os tipos a enterrar os cornos no chão!
– Está bem. Confira rapidamente o seu grupo. Veja se falta alguém ou se desapareceu algum armamento. Diga ao Hélder para fazer o mesmo.
– Como estão os feridos?
– Não sei exactamente. Parece que bastante mal. Não sei se foi do sopro da explosão, se...
A frase é interrompida. Muitos tiros e explosões de granadas. Os dois oficiais, como que sacudidos por uma mola, rastejam, saltam como coelhos e fazem fogo para a direcção onde estava o inimigo.
Os arbustos, junto ao corpo do ferido, tinham sido decepados, instantaneamente, por uma tesoura invisível.
Eles voltavam à carga.
– Marinho, temos de atirar a sua tropa para cima destes filhos da puta... senão, isto nunca mais pára. Os cabrões podem estar a armar-nos alguma ratoeira – e gritando: – Façam fogo… mas só pela certa.
Duraram alguns minutos. A manobra do grupo foi efectuada. Os guerrilheiros, mal deram conta, retiraram. As suas fardas negras eram vistas de relance. O estalar dos ramos a partirem-se e o característico som das suas automáticas, anunciavam os que ainda combatiam. Cobriam a retirada dos seus companheiros. A simbiose entre eles e o terreno era perfeita. Quando estavam a retirar gritam:
– Vai p'ro Puto, tuga
[1], filho da puta!
– Tuga... colonialistas... filhos da puta!
– Morte aos tugas salazaristas!
– Brancos cabrões. Fora dos nossa terra!
Os soldados não lhes ficavam atrás. A peixaria estava instalada!
Finalmente o tiroteio terminou.
– Mande apanhar os restos do Silva para um pano de tenda. Vamos recolher os feridos e preparar as evacuações. Veja se falta a arma de algum ferido – disse o capitão.
– Não falta. Estão todas. A do Silva ficou destruída, mas há ali umas peças retorcidas. As outras estão todas.
– Quantas são as baixas, exactamente?
– Estão a atacar a Alfa. Já têm dois mortos, e não consegui entender o número de feridos. Estão a pedir também evacuação, via rádio – disse o Alves Pereira afogueado.
– Isto não há dúvida que promete! A procissão ainda está só no adro. Vai ser um arraial dos antigos!
– Os hélis devem estar quase a chegar. Ouvi na rádio eles a pedirem a Luanda-Rádio, um avião de transporte de feridos para a Fazenda Margarido. Vão fazer as evacuações desta zona para a Fazenda.
– Temos de pôr isto imediatamente a andar. Comecem a remover os feridos. Você, Alves Pereira, continue em escuta.
– Meu capitão, o alferes Hélder já tem o morro tomado. Mas, daqui até lá, ainda é mais de um quilómetro.
– Meu capitão, do que restou do Silva, somente temos ali a cabeça com um bocado do peito, e um pé dentro de uma bota – disse o cabo enfermeiro.
– Pois é isso que se recolhe.
– Foi o que nós fizemos.
– E onde está?
– Naquele pano de tenda que o Botelho traz na mão – respondeu o Constantino.
Um soldado cabe num pano de tenda. Um outro soldado leva-o na mão, agarrado pelas quatro pontas!
Era cerca de meio-dia, quando se terminaram as evacuações. Três helicópteros baixaram, recolheram os feridos, e levaram o pano de tenda.
Só ao fim da tarde apareceu de novo o DO 27. Comunicou que no dia seguinte seria transmitida a decisão do Comando.
Mas esta não veio. Nem de manhã nem de tarde. Não havia jactos. Não havia tecto.
[1] Português

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

NATAL EM TEMPO DE GUERRA ... 6

Eram dez e doze. Uma violenta explosão soou, desencadeando infernal tiroteio. Explodiam granadas. Vibravam rajadas de metralhadora. As árvores da floresta tinham-se transformado. Os seus braços gigantes, empunhavam centos de metralhadoras. Um vulcão de metralha entrou em violenta erupção no meio da mata. O cheiro a pólvora, explosivos e sangue, torna mais difícil o respirar. Num momento, começou a cheirar a talho por todo o lado. Os soldados rebolam pela encosta fazendo fogo e procurando um abrigo.
O alferes Marinho, em grandes saltos de canguru, aparece e desaparece, articulando e manobrando o grupo de combate.
– Baixa o cu e faz fogo.
– Muda de posição, pá – grita, enquanto dava um pontapé num dos soldados que estava lívido e pregado ao chão pelo medo.
– Mexe-te, meu sacana... senão aqueles filhos da puta matam-te, meu animal.
Neste apocalipse, um grito percorre o ar.
– Enfermeiro à frente. Enfermeiro à frente.
A frase temida é transmitida de homem a homem.
O "Pastilhas", o Constantino, sem temer perigos, de cócoras e aos pulos, atravessa aqueles metros que parecem quilómetros, a toda a velocidade, seguido pelo capitão e o Zé Inácio, a sua sombra.
O espectáculo é dantesco.
Uma cratera com mais de cinco metros, está no meio do trilho. Pedaços de carne ensanguentada, pedaços de tripas, aos farrapos, estão espalhados pelas árvores.
No chão, quatro soldados parecem mortos. Não se mexem. Deitam sangue pela boca. Ainda respiram e gemem.
O capitão ajudado pelo Zé Inácio e o Constantino, arrastam os corpos para detrás das árvores, para os abrigarem do fogo, que continua.
A batalha tem gritos de raiva dos vivos, gemidos dos feridos, e muitas ordens gritadas.
A floresta virou talho. O enfermeiro não sabe a quem acudir. O capitão ajuda o enfermeiro. Com um pouco de algodão limpa o sangue que em golfadas, corre da boca de um dos soldados.
– Ai, meu capitão, que eu morro...
– Calma, pá. Isto vai-se resolver! Zé, vai dizer ao furriel que peça imediatamente evacuação heli para cinco ou seis feridos muito graves.
O tiroteio não abranda. As árvores vomitam metralha.
– Mê capitão, o furriel não consegue entrar em ligação. Diz que a mata é muito densa. Lá atrás, o nosso alferes Hélder está também cercado de “turras”. Não o deixam passar para o morro.
– Corre lá Zé. Ele não se pode deixar isolar. Senão, nunca mais saímos daqui.
– Mê capitão, aqueles bocados de carne... nas árvores, … são do Silva?
O capitão limpa o sangue da cara de um homem arrastado para fora da zona de morte. Está lívido. As árvores entram, de repente, a rodar no carrossel gigante.
Sim é verdade.
Os pedaços de carne pendurados naquele açougue, eram tudo o que restava, do que em vida, fora soldado, se chamara Silva, fora algarvio e, momentos antes estivera a seu lado, respirando o mesmo ar.
O turbilhão gira e confunde.
Tudo é real e não tem nexo.
A realidade e o pesadelo são coincidentes.
– Mê capitão, o furriel já entrou em ligação...
– Diz-lhe que peça apoio aéreo... ao menos com foguetes... e insista nas evacuações.
– Ai, meu capitão, que eu morro...
– Calma... calma... isto vai. Onde te dói?
– Todo o corpo... mas, mais no peito... não consigo respirar...
– Já está, mê capitão.
– Zé, vai ver o que se passa com o nosso alferes. Vê se já está no morro. – dirigindo-se ao soldado atirador que estava mais perto – Éh pá ... éh pá ... passa-palavra "alto ao fogo".
O soldado gritou para o outro que lhe estava próximo:
– Alto ao fogo... Alto ao fogo…
Foram minutos eternos para haver silêncio.

domingo, 7 de outubro de 2007

sábado, 6 de outubro de 2007

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Apelo ...

Solicitamos aos n/visitantes abaixo indicados, que supomos serem nossos camaradas do BCAV1883, o favor de nos contactarem via email ( albertodavid1883@gmail.com ), pois necessitamos urgente da v/colaboração e empenhamento na concretização da Comemoração dos n/4o anos :


S.Pedro do Sul
Porto
Quarteira
Arruda dos Vinhos
Covilhã
Pombal
Espinho
Madeira
Alemanha
Milharado
MonteBrison
Dublin
Braga
Almeirim

Hoje ( 5 de Outubro ), há 40 anos...

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

AO NOVO DRAGÃO





Visita do General Comandante R.M.A.

O DRAGÃO - nº.1 de Agosto de 1966

AQUARTELAMENTO DO BATALHÃO

Vista aérea do Aquartelamento do nosso Batalhão

O DRAGÃO - nº.1 de Agosto de 1966

LOUVORES

Soldado-Manuel António Brissos - www.ccav-1537.blogspot.com
Soldado-José Manuel Baptista Jorge - www.ccav-1537.blogspot.com
1º Cabo-Eusébio Craveiro Duarte - www.ccav-1537.blogspot.com
1º Cabo-João Nunes Doroteia - www.ccav-1537blogspot.com
1º Cabo-Mário dos Santos Ferreira - www.ccsbcav1883.blogspot.com
Alf.Mil.Médico-António Bernardo Carvalhais Figueiredo - www.ccav1535.blogspot.com
1º Cabo-Joaquim José - www.ccav1535.blogspot.com
Soldado-Manuel Reis Duarte - www.ccav1535.blogspot.com
-
A todos os camaradas que queiram ver os Louvores publicados no jornal O DRAGÃO, seleccionem o respectivo endereço da companhia, que se encontra a seguir ao nome.

E A BANDEIRA FLUTUA

O DRAGÃO - nº.2 Setembro de 1966

PELOTÃO MORTEIROS 1022

«Vão partir; mas deixaram a sua presença bem vincada na lembrança de todos nós»

O DRAGÃO - nº 3 de Outubro de 1966

O ADEUS AO 1022


O DRAGÃO - nº 3 de Outubro de 1966