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segunda-feira, 8 de outubro de 2007

NATAL EM TEMPO DE GUERRA ... 6

Eram dez e doze. Uma violenta explosão soou, desencadeando infernal tiroteio. Explodiam granadas. Vibravam rajadas de metralhadora. As árvores da floresta tinham-se transformado. Os seus braços gigantes, empunhavam centos de metralhadoras. Um vulcão de metralha entrou em violenta erupção no meio da mata. O cheiro a pólvora, explosivos e sangue, torna mais difícil o respirar. Num momento, começou a cheirar a talho por todo o lado. Os soldados rebolam pela encosta fazendo fogo e procurando um abrigo.
O alferes Marinho, em grandes saltos de canguru, aparece e desaparece, articulando e manobrando o grupo de combate.
– Baixa o cu e faz fogo.
– Muda de posição, pá – grita, enquanto dava um pontapé num dos soldados que estava lívido e pregado ao chão pelo medo.
– Mexe-te, meu sacana... senão aqueles filhos da puta matam-te, meu animal.
Neste apocalipse, um grito percorre o ar.
– Enfermeiro à frente. Enfermeiro à frente.
A frase temida é transmitida de homem a homem.
O "Pastilhas", o Constantino, sem temer perigos, de cócoras e aos pulos, atravessa aqueles metros que parecem quilómetros, a toda a velocidade, seguido pelo capitão e o Zé Inácio, a sua sombra.
O espectáculo é dantesco.
Uma cratera com mais de cinco metros, está no meio do trilho. Pedaços de carne ensanguentada, pedaços de tripas, aos farrapos, estão espalhados pelas árvores.
No chão, quatro soldados parecem mortos. Não se mexem. Deitam sangue pela boca. Ainda respiram e gemem.
O capitão ajudado pelo Zé Inácio e o Constantino, arrastam os corpos para detrás das árvores, para os abrigarem do fogo, que continua.
A batalha tem gritos de raiva dos vivos, gemidos dos feridos, e muitas ordens gritadas.
A floresta virou talho. O enfermeiro não sabe a quem acudir. O capitão ajuda o enfermeiro. Com um pouco de algodão limpa o sangue que em golfadas, corre da boca de um dos soldados.
– Ai, meu capitão, que eu morro...
– Calma, pá. Isto vai-se resolver! Zé, vai dizer ao furriel que peça imediatamente evacuação heli para cinco ou seis feridos muito graves.
O tiroteio não abranda. As árvores vomitam metralha.
– Mê capitão, o furriel não consegue entrar em ligação. Diz que a mata é muito densa. Lá atrás, o nosso alferes Hélder está também cercado de “turras”. Não o deixam passar para o morro.
– Corre lá Zé. Ele não se pode deixar isolar. Senão, nunca mais saímos daqui.
– Mê capitão, aqueles bocados de carne... nas árvores, … são do Silva?
O capitão limpa o sangue da cara de um homem arrastado para fora da zona de morte. Está lívido. As árvores entram, de repente, a rodar no carrossel gigante.
Sim é verdade.
Os pedaços de carne pendurados naquele açougue, eram tudo o que restava, do que em vida, fora soldado, se chamara Silva, fora algarvio e, momentos antes estivera a seu lado, respirando o mesmo ar.
O turbilhão gira e confunde.
Tudo é real e não tem nexo.
A realidade e o pesadelo são coincidentes.
– Mê capitão, o furriel já entrou em ligação...
– Diz-lhe que peça apoio aéreo... ao menos com foguetes... e insista nas evacuações.
– Ai, meu capitão, que eu morro...
– Calma... calma... isto vai. Onde te dói?
– Todo o corpo... mas, mais no peito... não consigo respirar...
– Já está, mê capitão.
– Zé, vai ver o que se passa com o nosso alferes. Vê se já está no morro. – dirigindo-se ao soldado atirador que estava mais perto – Éh pá ... éh pá ... passa-palavra "alto ao fogo".
O soldado gritou para o outro que lhe estava próximo:
– Alto ao fogo... Alto ao fogo…
Foram minutos eternos para haver silêncio.

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